Em meio a um cenário político polarizado nos Estados Unidos, a Disney anunciou mudanças significativas em suas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). A empresa, conhecida por seu histórico de iniciativas progressistas, agora busca alinhar seus programas a objetivos comerciais, refletindo uma tendência ampla no setor corporativo após o retorno de Donald Trump à presidência em 2024.
Principais Mudanças Implementadas
1. Revisão dos Avisos em Filmes Clássicos
A Disney alterou os alertas exibidos antes de animações como Dumbo (1941) e Peter Pan (1953). Originalmente, os avisos contextualizavam as representações estereotipadas, explicando que tais conteúdos eram “incorretos na época e continuam sendo hoje”. Agora, as mensagens são mais sucintas: “Este programa é apresentado como foi originalmente criado e pode conter estereótipos ou representações negativas”. O objetivo é preservar o contexto histórico sem interferir na experiência do espectador.
2. Fim do Programa “Reimagine Tomorrow”
O projeto, lançado em 2021 para amplificar vozes sub-representadas, foi removido do relatório anual de 2024 e substituído por “MyDisneyToday”, que prioriza a atração de talentos e o apoio a comunidades carentes. A mudança ocorreu após críticas de grupos conservadores, que acusavam a iniciativa de promover uma “agenda woke”.
3. Métricas de Remuneração Executiva
A Disney substituiu o critério “Diversidade & Inclusão” na avaliação de desempenho de executivos por “Estratégia de Talentos”, focada em valores empresariais e resultados financeiros. A remuneração agora é calculada com base em 70% de metas financeiras e 30% em outros fatores estratégicos.
Contexto Político e Pressões Externas
As alterações ocorrem em resposta a diretrizes federais do governo Trump, que desde 2024 pressiona empresas a reduzirem programas DEI sob alegações de “discriminação reversa”. Empresas como Meta, Google e Amazon também revisaram suas políticas para evitar sanções legais.
A decisão da Suprema Corte em 2023, que proibiu o uso de raça em admissões universitárias, reforçou o argumento contra ações afirmativas no setor privado. Além disso, Trump incentivou funcionários públicos a denunciarem colegas que mantivessem programas DEI, classificando-os como “discriminatórios”.
Impacto na Cultura Corporativa e Reações
Internamente, a Disney enfrenta tensões. Funcionários LGBTQIA+ e defensores de DEI criticaram a redução de iniciativas, como a suspensão de bolsas para minorias. Externamente, grupos conservadores celebraram a mudança, especialmente após a empresa ser alvo de processos judiciais por suposta violação de leis de direitos civis.
O CEO Bob Iger afirmou que a empresa deve “entreter primeiro”, evitando mensagens políticas explícitas. Essa postura reflete uma tentativa de equilibrar valores progressistas com pressões de acionistas e do governo.
Entre o Lucro e os Valores Sociais
A Disney, assim como outras gigantes, navega em um terreno complexo onde resultados comerciais e compromissos sociais colidem.
Embora a empresa mantenha discursos sobre “pertencimento” e “cultura inclusiva”, a priorização de métricas financeiras sinaliza uma guinada pragmática. O desafio será manter relevância cultural sem alienar públicos diversificados em um mercado globalizado.
Este reposicionamento da Disney ilustra como o ambiente político pode redefinir prioridades corporativas, mesmo para ícones culturais globais.